Médicos Sem Fronteiras em Gaza após nova escalada de violência

Sakhar dormia profundamente quando uma bomba atingiu a casa onde vivia com a família na Cidade de Gaza e, mesmo assim, soube imediatamente o que estava a acontecer.

Isso antes de desmaiar, antes de ser transportado para o hospital, antes de recuperar a consciência

e perceber que, uma vez mais, ele e a família tinham sobrevivido.

Com 30 anos e quatro filhos, Sakhar sobreviveu não apenas àquela bomba, em agosto de 2022, mas também a uma outra, durante os bombardeamentos na guerra em Gaza em 2014, em que sofreu lesões que necessitaram de enxertos de pele.

Desta vez agora, ficou com as costas cobertas de cortes. Foi à clínica da MSF para mudar os pensos dos ferimentos, junto com os dois irmãos mais novos, os quais sofreram fraturas, escoriações e queimaduras graves, e que também tiveram de receber tratamento.

Os irmãos de Sakhar, que têm 22

e 13 anos, recordam como as suas vidas têm sido moldadas pela proximidade aos traumas da guerra, apesar de repetidas vezes terem mudado de bairro na tentativa

de escaparem à destruição.

Para os habitantes de Gaza como Sakhar e os irmãos, o ciclo de repetidas guerras resultou em traumas físicos e de saúde mental agravados. E para os profissionais

de saúde, aquilo que se vê nos serviços de urgência tornou-se, também, demasiado familiar.

MSF testemunha nova escalada

de violência em Gaza

“Tivemos cinco guerras em Gaza

[nos últimos 15 anos] e sempre

que há um ataque aéreo, chega um número enorme de pessoas feridas ao hospital, todas ao mesmo tempo. Podemos ter até 50 ou mais pacientes ao mesmo tempo. Nessas alturas, sentimos emoções muito más, raiva, uma série de emoções misturadas, mas temos de ser fortes para dar resposta a estes casos”, explica o médico anestesista Osama Tawfiq Hamad.

“O meu filho mais velho tem agora

5 anos. E depois desta escalada, ele pede-me para pôr fim à guerra, grita durante a noite constantemente, não dorme há três noites e, quando por fim adormece, tem pesadelos que

o acordam subitamente, desata a correr, e não sei o que fazer nem como o ajudar", conta o médico

da MSF, Shadi Al-Najjar.

Impacto na

saúde mental

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, 82 por cento dos adolescentes em Gaza reportam níveis gerais de bem-estar mental maus a muito maus.

A avaliação de necessidades humanitárias feita pelas Nações Unidas para 2022 refere que mais

de metade (53 por cento) de todas

as crianças em Gaza precisam de proteção infantil e de serviços em saúde mental.

Depois de lhe terem sido mudados

os pensos, foi perguntado a Wael,

o irmão de 13 anos de Sakhar e Mahmoud, o que é que quer para

o futuro.

“Desejo que não haja guerras

no futuro e que a calma

[em Gaza] se mantenha, sem mais bombardeamentos", responderam

as crianças.

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