Se a salamandra perde um pedaço do coração, ele volta a crescer. Estudá-las pode ajudar a curar feridas humanas
CLIQUE
As salamandras são seres extraordinários. Estes anfíbios têm capacidade de se regenerar — quando perdem um dedo, conseguem que cresça de volta. Mais ainda: se ficarem sem um pedaço do coração ou da medula, são capazes de os regenerar facilmente
Estudar estes anfíbios e decifrar o seu código genético pode ser um passo importante na criação de formas eficazes de tratar feridas em seres humanos
O axolote (Ambystoma mexicanum), que habita as águas do México, é uma das mais conhecidas espécies de salamandra — e que está em vias de extinção. Tem uma particularidade: não se desenvolve para lá da fase de larva, mantendo-se no mesmo estado toda a vida
Segundo a "Horizon", Revista de Investigação e Inovação da União Europeia (UE), a ciência estuda há vários anos estes anfíbios pelas suas capacidades de regeneração
O projeto RegGeneMems, financiado pela UE, tenta desvendar o mistério das moléculas que comandam as células dentro do axolote ferido, fazendo com que cresçam e se movam, restaurando desta forma um membro inteiro no tamanho e proporção adequados. O membro cresce como se fosse a primeira vez que se está a desenvolver
Embora a possibilidade de uma pessoa regenerar um braço ou uma perna seja algo saído de ficção científica, os autores do estudo acreditam que as salamandras podem dar novas perspetivas para que se consiga melhorar o tratamento de lesões em humanos
Segundo Elly Tanaka, professora do Instituto de Investigação de Patologia Molecular em Viena, Áustria, e que estuda salamandras há duas décadas, estes animais, ao regenerar uma extremidade, usam a mesma estrutura molecular usada na sua criação
Quando o axolote perde uma extremidade, forma-se um coágulo e as células cobrem a ferida num dia. Os tecidos começam a reorganizar-se, formando um blastema - uma massa desorganizada de células, material primitivo na formação de animais e plantas que se pode desenvolver num membro
Ao contrário do que acontece nos humanos, em que o tecido da cicatriz se forma de fibroblastos, nas salamandras as células dão "um passo atrás" para se tornarem menos "desenvolvidas"
Desta forma, ganham flexibilidade e emitem sinais para que um novo membro se comece a formar, como se tratasse da "primeira vez", com várias partes do corpo a dar sinais distintos de outras. Tudo pode depender da rigidez dos tecidos, que trará velocidades de crescimento distintas a cada membro, entre outras especificidades
Ainda que Tanaka passe a maior parte do tempo a estudar a mecânica molecular dos processos regenerativos do axolote, a cientista prevê benefícios futuros para pacientes humanos feridos
No entanto, salamandras e mamíferos desenvolvem-se de maneira diferente. O axolote tem a capacidade de desenvolver membros que podem chegar ao tamanho de um braço adulto
“Não é possível que as células humanas façam isso, pois estão programadas para funcionar numa escala muito pequena. No entanto, podemos produzir um grupo de células-tronco humanas que podem regenerar-se tal como um axolote”, acrescenta Elly Tanaka. Algo assim seria extremamente benéfico, por exemplo, para pessoas com queimaduras de elevada dimensão
LEIA MAIS ARTIGOS
WEBSTORY: TIAGO SERRA CUNHA
FOTOGRAFIAS: UNSPLASH; GETTY
<!— netScope v4 – Begin of gPrism tag for AMPs -->