"É difícil ouvir o governo do Catar dizer: ‘Claro, todos serão bem-vindos no país’, quando eu não sou bem-vindo na minha própria casa"
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MUNDIAL 2022
A frase é de Nasser Mohamed, o primeiro homem no Catar a assumir publicamente a sua homossexualidade. Contou a sua história ao "Estadão".
Mohamed é médico e vive desde 2015 em São Francisco, nos Estados Unidos. O país concedeu-lhe asilo por entender que corria risco no Catar.
Segundo o "Estadão", Nasser estava incomodado com a imagem que o seu país tentou vender na preparação para o Campeonato do Mundo, por isso, em maio deste ano, anunciou a sua orientação sexual ao mundo.
“O marketing que está a ser feito para o Mundial não está a passar a imagem real do que acontece com as pessoas LGBTQI+ no país”, pode ler-se no jornal brasileiro.
“Falei publicamente sobre mim para dar voz à nossa comunidade, trazer a nossa perspetiva, porque temos medo até de falar. No início do ano, davam a entender que não existiam no Catar pessoas LGBT."

"Eles (o governo) dizem que gays serão bem-vindos, que a sociedade é tolerante. Isso não é verdade. É uma sociedade violentamente homofóbica.”
Mohamed conta que desde que começou a dar entrevistas internacionalmente, passou a ser alvo de ataques online, refere o "Estadão".
O médico admitiu ao diário brasileiro temer que o governo do Catar faça algo contra si, sobretudo depois do Mundial.





“Honestamente, não sei o que eles podem fazer. Os movimentos deles são imprevisíveis e o alcance é grande. Eles têm conexões com políticos e pessoas ricas em todos os lugares, pessoas que estão dispostas a fazer qualquer coisa por eles.”
Sinto-me ameaçado e exposto, mas senti que precisava de falar. O facto de nenhum outro cidadão do Catar falar disto publicamente deve dar uma ideia do quão perigoso é fazer isso.




Segundo o diário brasileiro, para Mohamed, ser um adolescente gay no Catar era uma “tortura mental”. E apesar de não ter tido relações enquanto vivia no seu país, diz que ainda assim as pessoas encontram formas de se conhecer, seja por aplicações ou em pequenos grupos LGBTQI+.


"Eu não me sentia seguro, não sabia a quem podia ou não contar. Apps são muito arriscadas, porque nunca se sabe se está lá alguém da polícia.", confessa ao jornal.
"Algumas pessoas relacionam-se quando saem do país, mas, quando voltam, não arriscam. Outros conhecem pequenos grupos de pessoas LGBTQI+. É basicamente um mercado ilegal.”
Mohamed afirma ao diário brasileiro que a situação é difícil para homens gays, mas para mulheres lésbicas é ainda pior. "Sofrem uma pressão maior para se casarem e algumas tentam casar-se com homens gays. Elas não têm voz”, diz o médico.



A situação LGBTQI+ no Catar fez Mohamed criar uma ONG, chamada Alwan Foundation, que está a arrecadar recursos destinados a ajudar na proteção da comunidade gay da região do Golfo Pérsico.




Começou também uma campanha de consciencialização a decorrer durante o Mundial. O médico vai contar, nas redes sociais, uma história por dia de um cidadão anónimo que faça parte da comunidade.



Mohamed lançou ainda, mais recentemente, um hino para apoiar o Catar no Mundial, chamado "Proud Maroons". O nome é uma referência ao apelido da seleção, explica ao jornal, e o slogan diz que são o “grupo de adeptos LGBTQI+ da seleção que o Catar nunca quis ter”.


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WEBSTORY: RITA COELHO
FOTOGRAFIAS: DR; hproudmaroons.com; alwanfoundation.org
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